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quarta-feira, 10 de março de 2010

Cultura da Mobilidade - noturno


O artigo “A Cultura da Mobilidade”, de André Lemos, traz as várias dimensões de mobilidade e as relaciona com vários aspectos da sociedade contemporânea, como a vida social, a cibercultura, as mídias, a comunicação e o sentido de lugar. 

O autor começa contextualizando a cidade como um lugar que se realiza nos fluxos de mobilização, isso porque as cidades modernas, ou cidades informacionais, como chama o autor, são extremamente dinâmicas, não só pela facilidade de ir e vir, mas também pelo fluxo de informações que chegam e saem.

André coloca a comunicação e as relações sociais como pontos principais dessa mobilidade “Há, nas relações sociais, movimento e repouso, isolamento e agregação, compulsão social e necessidade de isolamento. A comunicação se estabelece nessa dinâmica do móvel e do imóvel” (LEMOS, 2009, p.28).

A mobilidade é posta em três dimensões: a do pensamento (onde há a desterritorialização), a física (corpos e objetos) e a informacional-virtual (informação), onde uma tem impacto sobre a outra. 

Com a atual fase tecnológica, podemos dizer que estamos em uma “mobilidade ampliada”, que potencializa as dimensões física e informacional. 

O autor ainda coloca que “Não podemos dissociar comunicação, mobilidade, espaço e lugar. A comunicação é uma forma de “mover” informação de um lugar para outro, produzindo sentido, subjetividade, espacialização” (LEMOS, 2009, p.29).

Um ponto muito interessante encontrado no artigo é a questão de que a mobilidade não é algo neutro em relação às classes sociais, revelando formas diferentes de poder, controle, monitoramento e vigilância. Não é coincidência as pessoas que têm maior mobilidade física, também serem aquelas com maior mobilidade informacional-virtual.

O artigo deixa claro a diferença entre a habilidade de se mover (extensibilidade) e a possibilidade de alcançar determinado ponto, físico ou informacional (acessibilidade). Essas duas dimensões aumentam ou diminuem de acordo com a imediaticidade e a instantaneidade. 

A cultura da mobilidade evoluiu junto com os outros aspectos da cultura humana. Antes, com as mídias de massa podíamos apenas consumir as informações transmitidas, hoje isso mudou muito, podemos não só consumir, mas também criar e distribuir conteúdos de forma imediata.

André Lemos, busca também, mostrar a relação entre mobilidade e vida social. Começa mostrando a diferença entre espaço social e espaço geométrico, por exemplo, uma pessoa pode mudar de espaço social sem mudar de espaço geométrico (ascensão por riqueza), da mesma forma que pode variar de posição geométrica e continuar na mesma posição social.

A mobilidade deve ser vista como um produto cultural, pois a noção de espaço foi uma criação humana. A cultura da mobilidade não é algo que surgiu agora, com as novas tecnologias da informação, mas é algo muito antigo, sempre buscamos novos mercados e novas relações.

Não podemos esquecer que essencialmente somos nômades, nossos antepassados seguiam de um ponto a outro para buscar recursos para sobreviver “O processo civilizatório institui processos de territorialização enquadrando e monitorando a vida social através de uma rede de regras, instituições, leis, artefatos. O próprio da vida social é o deslocamento, o nomadismo e a errância”. (apud Attali, 2003).

Estamos vivendo, com a cibercultura, o nomadismo virtual, que cria territorialização em meio a movimentos no espaço urbano. Os nômades virtuais buscam os territórios informacionais. O autor nos da um exemplo muito bom para entendermos a diferença entre os nômades tradicionais e os nômades virtuais, cita o filme “A grande final” (Olivares, 2006) onde grupos de índios e nômades de diferentes regiões se deslocam em busca de um local com antenas, para poderem assistir a final da copa do mundo de 2002.

André Lemos também aborda a questão de noção de espaço e lugar na cultura da mobilidade. Para ele apesar da mobilidade estar ampliada devido a evolução tecnológica, nossas experiências ainda são fundadas em lugares, ou seja, por mais que possamos nos comunicar e transmitir informações a distância não perdemos a dimensão espacial, o sentido de localidade.

As mídias não tiram nossa sentido de lugar, mas o ampliam, seja pela experiência ou pelas mídias “mídias produzem desde sempre espacialização e subjetividade, pela escrita, depois os jornais [...] e hoje a internet e as mídias digitais” (LEMOS, 2009, p.31).
. André relaciona também a mobilidade, comunicação e cibercultura, esta última produz espacialização, tomamos conhecimento de cada vez mais lugares “Hoje esta espacialização é mais evidente já que estamos na era das mídias de geolocalização, onde “mobilidade” e “localização” são suas características, ao mesmo tempo contraditórias e complementares” (LEMOS, 2009, p.32).

As mídias de geolocalização (serviços e tecnologias baseadas em localização onde um conjunto de dispositivos, sensores e redes digitais sem fio e seus respectivos bancos de dados agem informacionalmente de forma “atenta” aos lugares) permitem, que façamos trocas infocomunicacionais contextualizadas. As informações postadas e consumidas surgem de coisas, objetos e lugares concretos. 

“Podemos afirmar que a mobilidade propiciada pelas tecnologias de comunicação móveis cria pontos de convergência, territórios informacionais que redefinem tanto lugares físicos como o espaço de fluxo” (LEMOS, 2009, p.32).

O ponto principal que o artigo argumenta, é o fato da mobilidade não ser inimiga do local. As novas mídias ampliam nosso sentido de espaço, mas não quer dizer que o contexto da informação não seja mais importante, pelo contrario, usamos as novas ferramentas para estreitar laços e relacionamento e necessitamos do espaço da informação para que ela faça sentido para nós.

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