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terça-feira, 16 de março de 2010

Resenha Flavia Obara

Resenha do artigo “Era Digital: novas linguagens para a construção do Design de Relações” de Joana Gusmão Lemos e João Baptista Winck

            O artigo trabalha com os conceitos das linguagens na Era Digital e o contexto em que se inserem as transformações desta nova Era. No começo da leitura há a abordagem da caracterização da Era Digital, já que, segundo os autores, é este o momento em que vivemos
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            A chave para o início dessa nova ordem é a ‘inovação’ pois há uma convergência de cadeias produtivas, como as indústrias de conteúdo, os meios de comunicação, as empresas computacionais, e as de telefonia móvel, etc. Isso ocorre pois eles têm a responsabilidade de gerar mensagens inovadoras, já que as possibilidades criativas destas indústrias, por tratarem de meios digitais, são muito maiores que nos meios analógicos.


            É exatamente neste ambiente que podemos vivenciar o Design de Relações, ou seja, as relações entre projeto, processo e produto, no contexto dessa nova ordem. De imediato o significado do novo termo ‘design de relações’ pode ser de difícil compreensão. Entretanto, esta dificuldade ameniza-se a partir das explicações das mídias digitais, da interatividade, comportamentos e relacionamentos.

            Para os autores, o mundo digital transforma as noções de espaço de tal maneira que nele não há um modelo para organizar a informação. Ao invés de cada objeto virtual ter o seu lugar, é melhor que eles estejam em vários lugares ao mesmo tempo, e vejo como exemplo, os sites de busca: Google, Yahoo, etc. Estes conteúdos digitalizados constituem a terceira ordem do conhecimento, segundo David Weinberger. Esta terceira ordem remove as limitações presumidas como inevitáveis no modo como organizamos as informações e coloca em evidência a diversidade como um de seus princípios básicos. 

            A teoria do conhecimento surge com o filósofo Aristóteles que, resumidamente, pode ser explicada da seguinte maneira: a primeira ordem é aquela com as limitações do mundo físico, onde uma folha pode vir apenas de um galho, por exemplo. Já na segunda ordem, a maioria dos sistemas de catalogação conta com provisões, ou seja, estoques para listar o conhecimento sobre mais de um tópico, mas o aspecto físico desta ordem ainda costuma exigir que um galho seja escolhido como o principal e existe um limite para listagens secundárias. É na terceira ordem que as folhas podem conter galhos, ao contrário das ordens anteriores. Nesta nova ordem, de acordo com os autores, na comparação do conhecimento com uma árvores, uma folha pode conter diferentes galhos para diferentes objetos do conhecimento e mudar os galhos desse mesmo objeto se o acesso a análise do assunto for sob outro aspecto, pois aqui o conhecimento não tem uma única forma, mas sim inúmeras maneiras de se entender o mundo.

            Ora, esta descrição exemplifica perfeitamente o sentido da Web, em que uma “teia” absorve em um local só o máximo de informações e conhecimentos possíveis. Weinberger caracteriza esta terceira ordem como a ordem da miscelânea, que muda nossa visão de organização, hierarquia e de autoridade. 

            Nessa nova ordem cada um pode criar suas próprias categorias de acordo com a sua forma particular de pensar. Com isso, a informação passa a ser manipulada por múltiplas mãos, que interagem e transformam o cenário em que atuam. Dessa forma, o autor afirma:
“O valor dessa miscelânea é o relacionamento implícito, que surge da heterogeneidade e passa a ter seu valor como infra-estrutura de significado, ou seja, “não só as informações se tornaram entrelaçadas como o próprio entrelaçamento gera conhecimento” (WEINBERGER, 2007, p.125 apud Winck e Lemos).

            A noção de tempo-espaço introduz o processo da virtualização, que reinventa uma cultura nômade, fazendo surgir um meio de interações sociais onde as relações se configuram de forma muito dinâmica, com movimentos de “desterritorialização”, onde o pessoal e o coletivo se confundem. 

            A virtualização também ocorre com a desmaterialização do corpo, que Pierre Lévy apresenta como uma “aventura de autogênese”. Hoje, com as técnicas de telepresença, pode-se estar aqui e lá ao mesmo tempo. Tal fato é possível pela virtualização dos sentidos e das percepções (telefone para a audição, tv para visão). Seguindo a previsão de McLuhan na convergência tecnológica, o maior exemplo desta virtualização atualmente é, com certeza, a TV Digital. Pierre Lévy (1996, p.16), ao tratar da virtualização, afirma que 

“[...] o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização”.

            A atualização caracteriza-se como a invenção de uma solução exigida por um complexo problemático, o que envolve a criatividade. Pode ser entendida como a renovação, o real atuando no real. Já a virtualização se dá no processo inverso, quando se passa do atual ao virtual.
 
            A virtualização, tão presente na Era Digital com as tecnologias da informação e comunicação, atua como um importante vetor para a criação da realidade. Um exemplo desse processo, segundo Lévy, é a virtualização do texto contemporâneo, objeto este que alimenta correspondências on-line e conferências eletrônicas.

            Na perspectiva da Era Digital, os autores do artigo abordam a questão das interfaces que “(...)são superfícies de contato, de tradução, de articulação entre dois espaços, duas espécies, duas ordens de realidade diferentes.” (LÉVY, 1993, p. 181) e estão na passagem de um código para outro (por exemplo, do analógico para o digital, do mecânico para o humano).
            Manovich (2005) coloca que a interface tem o poder de moldar a maneira como o usuário concebe o meio, pois consegue despojar os meios de suas diferenças originais, impondo-lhes sua própria lógica. Dessa maneira, é a interface a responsável pela materialidade exclusiva de sua obra, assim como também é ela a criadora da experiência única do usuário.

            Hoje em dia, as interfaces ganham outras texturas, pois sua construção está imersa em um novo contexto, no qual os meios se libertam cada vez mais dos suportes de armazenamento físico (papel, película, cristal, fita magnética etc).

            Para que haja interface, é fundamental que haja interatividade, ou seja, “a conquista da autonomia e da autogestão do usuário frente aos modos de acesso, manipulação e de estocagem de informação” Winck (2007). Ele explica que nas relações interativas o usuário, além de interagir com as mensagens que produz e consome, interage principalmente com os instrumentos de comunicação e com os seus potenciais  interlocutores.

            Por fim, após analisar a linguagem, o contexto e suas características digitais, compreende-se o significado e a importância do Design de Relações – ou também chamada lógica da interatividade, segundo Dorival Rossi – que caracteriza-se, segundo os autores do artigo, por um novo projeto de relação social pautado numa ética distinta, interpessoal, carregada de estética, de fruição e, sobretudo, amigável. 

            Entretanto, esse novo design depende da construção coletiva do conhecimento, da criação de elos mais íntimos entre máquinas, seres humanos, pensamentos e fornecendo, portanto, as linhas para o desenvolvimento de uma linguagem que dê conta dos novos processos e relações que emergem com as mídias digitais.

Um comentário:

  1. Primeira vez que ouço sobre Design de Relações! Muito interessante e inovador...o exemplo dos galhos e da arvore que foram citados pelo atuor ajudam bastante a compreender...

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